RPG é aquele jogo de demônios?

RPG originalmente significa Role-playing Game e o modelo que conhecemos atualmente foi criado na década de 1970 nos Estados Unidos. Em uma livre tradução para o português seria algo como jogo de interpretação de papéis.

Considero horroroso esse termo, nada convidativo e pouco esclarecedor, inclusive. Quem se interessaria a participar de um jogo desses, de cara, sem uma ampla e apaixonada explicação de um veterano?

Costumo denominar o RPG como um “jogo de mesa de contar e viver histórias coletivas”, no qual os participantes assumem papéis de personagens fictícios dentro de uma trama criada por outro participante, designado como “Mestre”, que assume todos os outros papéis, personagens coadjuvantes e antagonistas durante a partida.

Algumas folhas, lápis, um punhado de dados e você estará pronto para viver a história proposta, seus ganchos de aventura e seus desafios.

O jogo não se encerra até que todos os objetivos sejam concluídos, podendo durar algumas horas dentro do que consideramos como “sessão de jogo”, ou em arcos e histórias maiores e mais complexas, denominadas “campanhas”, que são a resultante de inúmeras sessões de jogo dentro da mesma história, chegando a durar meses ou até anos.

Para tanto, defino três aspectos básicos para que se possa dar início à diversão. São eles:

Temática

Nesse momento é preciso definir o estilo em que a história do jogo se passará: futurista, medieval, terror/horror, moderno, etc. Assim os personagens, suas características e a história central seguirão a lógica referente ao estilo escolhido evitando conflitos lógicos e definindo uma proposta em que todos possam se enquadrar e desfrutar em iguais perspectivas.

Cenário/Ambientação

Mas onde essa história se passará? Na Europa Medieval, durante as Cruzadas? Em investigações do FBI após o ataque às Torres Gêmeas? Durante a Segunda Guerra Mundial? Em um mundo cibernético ultramoderno onde as máquinas ganharam vida? Em um apocalipse zumbi? Em meio a dezenas de super-heróis cheios de poderes defendendo o universo?

O cenário e ambientação definem onde a história ocorrerá e quais os panos de fundo e características do universo em que o jogo se passará serão usados. Desde o nível de tecnologia, fantasia e verossimilhança, conjunções políticas, perigos e adversidades naturais e não naturais, figuras centrais e coadjuvantes do ambiente escolhido e toda estrutura social. Inclusive, é totalmente normal e bem-vindo usar cenários e ambientações já existentes na cultura pop e literatura em suas partidas.

Você pode criar um universo onde grandes guerreiros honrados usam lanças elétricas para vencer invasores alienígenas que desejam se alimentar de cérebros humanos do mesmo modo que pode jogar uma história dentro do universo de Star Trek e todas suas especificações e características próprias, incluindo, ou não, seus personagens principais.

Pode cavalgar contra o mal que nasce das profundezas do mundo, cobrindo os céus de névoas escuras vivas, brandindo sua espada flamejante como pode também usar toda a estrutura de “O Senhor dos Anéis” para viver aventuras, originais ou próprias, na Terra Média.

Reiterando, você pode usar cenários e ambientações existentes e alterar o que bem entender, criar histórias anteriores ou posteriores de acontecimentos-chave, mudar ou ignorar outros, abstrair ou criar

novos personagens, vilões, acontecimentos, e tudo o mais que for conveniente para o desenrolar da partida e diversão dos jogadores.

Missão

Definir qual o objetivo do jogo é o ponto mais importante de uma partida de RPG, pois será esse o foco principal do grupo. Naturalmente objetivos secundários podem e devem surgir durante o jogo criando dinâmica e desafio a jogadores e mestre, mas uma proposta inicial é que marca o início da aventura e objetivos principais dos jogadores, que precisarão encontrar saídas para sua resolução, confrontando inimigos, se deparando com problemas variados e adversidades durante o processo.

Lembrando: RPG é um jogo coletivo e, portanto, sua proposta é criar mecanismos de cooperação que resultem em sucesso mútuo. Não se joga RPG contra seus colegas de mesa, joga-se ao lado deles.

Aspectos como interdependência, empatia, dinâmica e trabalho em equipe, raciocínio lógico, estímulo de criatividade, confiança e tomadas de decisões, respeito às diferenças e opiniões, simulações de variadas posições hierárquicas, acadêmicas e sociais, condições pessoais, financeiras e emocionais distintas serão estimuladas e vivenciadas o tempo inteiro criando elementos incríveis e vivos dentro do jogo, mas que também servirão como um combustível a mais para muito além da diversão durante as horas passadas com seus amigos.

RPG é entretenimento, mas também pode ser muito mais do que isso, é socialização, é política, te coloca fora da zona de conforto, te faz enxergar situações sob condições e perspectivas diferentes, muitas vezes antagônicas, capacita a encontrar saídas para problemas e lidar com eficiência e empatia perante a tudo isso. RPG é arte e vida simultaneamente.

E aí, vamos embarcar em uma aventura juntos?

About Vinícius Peres

Vinícius Peres, engenheiro e microempresário. Ingressou no RPG no ano final da década de 90 com o belíssimo e clássico "Livro dos Monstros" de AD&D 2ed. acompanhado de um mísero d8. Se apaixonou pela ideia de criar histórias coletivas protagonizadas por personagens próprios e desde então nunca mais abandonou o hobby.

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